24 outubro 2009

Quero.

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas:
Eu te amo.
Ouvindo-te dizer:
Eu te amo, creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão que
me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação pois ao não dizer:
Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra nem sei
de outra maneira a não ser esta de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra e na sua emissão,
amor saltando da língua nacional, amor feito som vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo amo amo amo amo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos, essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade