03 julho 2011

Ai, que vergonha!

A fala de Myriam Rios é uma piada de mau gosto


Ai, que vergonha! Senti vergonha quando tomei conhecimento da fala da deputada Myriam Rios (PDT - RJ) ao se pronunciar contra a PEC 23/2007 que visa incluir a ''orientação sexual'' no rol dos direitos fundamentais da constituição do Estado. A deputada disse que isso ''era porta para a pedofilia''. Ela ainda explicou: ''Digamos que eu tenho duas meninas em casa, seja mãe de duas meninas, e resolva contratar uma babá. E essa babá mostra que a orientação sexual dela é de ser lésbica. Se a minha orientação sexual não for essa, for contrária, e eu quiser demiti-la, eu não posso. Eu vou estar enquadrada nessa PEC, como preconceituosa e discriminativa.'' E acrescentou: ''Se a orientação sexual de um rapaz é pedófilo, se é ter relacionamento sexual com um menino de 3 a 4 anos de idade, ... não poderemos fazer nada porque ele está protegido pela lei''.
Quando li, pensei que isso não era exatamente uma fala, era a letra inteira do ''Samba do Crioulo Doido'' com enfoque sexual, composto por uma deputada que já foi atriz, foi casada com Roberto Carlos, posou nua para revistas masculinas e não aprendeu nadinha sobre liberdade, individualidade, diversidade e direitos.

Myriam Rios precisa voltar a fazer novelas, pelo menos na televisão dão os textos prontos para ela, que não tem que acrescentar nada, pensar nada, articular nada porque, definitivamente, não tem talento para a política nem para o discurso porque isso exige um mínimo de conhecimento e sensibilidade.
Myriam, se quer continuar deputada, deveria contratar Glória Perez ou Manoel Carlos para ter o texto pronto. Mais que isso, deveria compreender que fazer parte do Legislativo não é como fazer novela: depois que falou, não tem como voltar atrás, porque não é como repetir a cena, cortar o take ou o capítulo. Claro que depois ela tentou consertar as coisas, mas era tarde, já tinha virado estrela da gafe no Youtube, onde o vídeo com as suas declarações virou piada. E não há assessor que dê conta de...piada.
Ai, que vergonha! Porque também sou mulher, mãe e brasileira. E lamento profundamente que uma mulher seja eleita para dizer bobagens, disseminar preconceito e delirar associando pedofilia a homossexualidade. Mas não é o único caso. A política há muito tempo virou carreira de picaretas e, com algumas exceções, terreno fértil para gente despreparada. As ''pérolas'' ditas pelos políticos mostram como o Festival de Besteiras que Assola o País foi consagrado pelo hábito, muito tempo depois de ter sido identificado por Stanislaw Ponte Preta. Vamos lembrar algumas frases que, acreditem, não foram ditas como piadas:

- ''A cachorra é um ser humano como qualquer outro''. (Antônio Rogério Magri)
- ''O que fazer com um camarada que estuprou uma moça e matou? Tá bom, está com apetite sexual estupra, mas não mata''. (Paulo Maluf)
- ''Se a gente não cumprir (o que prometeu) é porque teve fatores extraterrestres que não permitiram que nós cumpríssemos''.(Luiz Inácio Lula da Silva)
- ''Câncer de mama hoje é uma doença masculina também, né? Deve ser consequência dessas paradas gays''. (Roberto Requião)
- ''O mal do Brasil é ter sido descoberto por estrangeiros''. (Índio do Brasil)

O Festival de Besteiras assola a política nacional com piadas fora de contexto e erros crassos. Hoje moro em Jaú, interior de SP, e ouvi, esta semana, um vereador discursar pela derrubada das casas que formam o Patrimônio Histórico do Município. O dito cujo, do alto de sua 'instrução', pregava a demolição assegurando: ''Nem toda casa velha é histórica e não pode ser considerada histórica só porque tem ali uma arandela ou um 'recocó'''. Ele disse ''recocó'' mas queria dizer rococó. E fiquei pensando que 'recocó' é a cabeça dele, 'recocó' é a cultura dele, 'recocó' é a política brasileira. Não há professor ou pai-de-santo que dê jeito nisso, mas o eleitor pode sim exigir um salto de qualidade, antes que o País inteiro se transforme num grande CQC. Porque sobra burrice, ganância e piada nas assembléias, mas falta vergonha!


Jornal Folha de Londrina 03/07/2011
Célia Musilli celiamusilli@terra.com.br

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