15 março 2011

“Vampiros” são um risco. Exigem demais e deixam o outro indefeso.


Cuidado com “vampiros”. Eles sugam a energia vital dos parceiros como crianças subnutridas emocionalmente, às quais faltou o amor materno. Os mais  competentes são românticos, bons amantes e ótimos simuladores. Convencem a vítima, graças a um poder hipnótico, de que a estão prestigiando com sua nobre escolha. E ela fica submissa  às necessidades do sanguessuga.

Os “vampiros” existem! Fazem parte das lendas que, como os mitos, foram criados desde os primórdios da humanidade para representar, de forma simbólica e caricatural traços de nossa condição humana. O Conde Drácula, de caninos proeminentes, não existe. Mas o mesmo não se pode dizer das suas terríveis presas, que simbolizam a atitude extrativista de quem, para viver, absorve a energia vital de outra pessoa. Estamos falando de relações perigosas, nas quais um dos parceiros, muitas vezes sem perceber, tem sua vitalidade sugada “de canudinho”, pois esta submetido a dominação implacável, sentindo-se obrigado a atender a exigências excessivas.


O casal com esse perfil tem um dos seus membros de tal modo desvitalizado que costumam dizer: “Fulano está vampirizado”. A vítima tem aparência enfraquecida: além de pálida, com olheiras, parece desidratada. A expressão denuncia desassossego e falta paz na relação.

Os vampiros mais notáveis são aqueles , que devido ao temperamento difícil ou até a um problema psicológico, praticamente drenam a energia dos que estão por perto.

São pessoas trabalhosas, sempre alteradas, que permanentemente se envolvem em alguma confusão ou litígio. Devido à obviedade do comportamento, são menos perigosas e dão à presa mais possibilidade de perceber “a roubada” e se defender.

O vampiro eficiente costuma trabalhar em silencio, com descrição e elegância. Convém que seja nobre e sofisticado como o Conde Drácula, já que seu principal instrumento de trabalho, em lugar dos dentes, é a sedução. Sim. Ele é um grande sedutor. A cantora Rita Lee(55), que parece conhecer o doce sabor da mordida de um vampiro, já deu a dica para todo mundo. “Meu doce vampiro...a luz do luar...” Doce e romântico. Compreende-se que no cenário em que atua não pode faltar a lua cheia...de uivos de amor. Pois um vampiro competente faz da luxuria uma arte. Bom amante, sabe tudo sobre o desejo. Ele deseja com voracidade animal. Intuindo o que o que o outro quer, encena, enganando-o . A simulação romântica produz efeito hipnótico na vitima, que fica indefesa e não oferece resistência, enquanto o vampiro a “bebe” em uma flúte de champanhe.

O segredo do sucesso do vampiro está na capacidade de convencer a vitima de que a prestigia com sua nobre escolha. Fisgada pelo charme irresistível do sanguessuga, a presa não percebe que na verdade, o cavalheiro é um fraco. Emocionalmente subnutrido, depende do outro para sobreviver.

A pessoa que estabelece tal padrão extrativista de relação o faz porque é de sua natureza. Um acidente de percurso a levou a transformar o outro em seu meio de vida. Na lenda, Drácula tornou-se mau após uma decepção amorosa. Sua noiva, ao receber a falsa notícia de que o conde morrera na guerra, suicida-se jogando-se no rio. Quando o nobre retorna e sabe do ocorrido, revolta-se contra DEUS e decide buscar a imortalidade para reencontrar a amada em uma futura encarnação

O que ocorre com o parceiro vampiro é semelhante. Também ele foi vítima de privação amorosa. Quando nasce, o bebê necessita de forte investimento afetivo da mãe.

O psiquismo da criança metaboliza o amor que recebe, transformando-o em energia de vida. Quanto mais amado, mais viçoso, corado e vital é o bebê. Ao contrario, quando não é suficientemente desejada pela mãe ou por quem substitui, a criança permanece quietinha e desvitalizada, reagindo pouco aos estímulos externos. Por sentir-se privada do amor da mãe, entre outras reações, poderá no futuro fazer do parceiro uma reencarnação dela.

Semelhante a um bebê carente e possessivo, exigirá do parceiro entrega absoluta.

O manto aristocrático do vampiro tenta encobrir a parceria antiética que estabelece ao relacionar-se com alguém. Faz lembrar a história da galinha que convidou o porco para sócio em um negocio de fornecimento de desjejum. Segundo a ave, a idéia é boa: “Entro com os ovos e você com o bacon”. A proposta do vampiro é parecida: ele entre com os caninos e o parceiro com o pescoço.

Beatriz Kuhn, psicanalista no Rio de Janeiro,

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