28 maio 2011

Domingo dia do senhor ou do homem?

Catedral de Londrina

O domingo é um dia santo e de festa em honra de Jesus ressuscitado. É a celebração desta nova criação. Na verdade, o tempo e o espaço pertencem ao Senhor. Dele são todos os dias, mas o homem necessita de momentos explícitos de oração e o domingo é esta oportunidade. ''Recorda-te do dia do sábado, para o santificares'' (Ex. 20,8).
Guardar o domingo como dia santo e de repouso, não é apenas interromper o trabalho para um relax, mas celebrar as maravilhas realizadas por Deus, com gratidão e louvor. Adoração e repouso, culto e descanso, são as duas características do domingo. Marcado pela ressurreição de Jesus, o domingo é dia festivo. Na casa arrumada, na comida diferente, na roupa mudada, nas visitas às pessoas e celebrações na Igreja, expressamos a alegria da ressurreição.
Domingo é o dia da vitória da vida, festa da vida, é o primeiro dia da semana, dia do Senhor. Os historiadores, dentre eles Plínio, o jovem, identificam os cristãos a partir do domingo quando escreve: ''Eles se reúnem num lugar, antes da aurora, no domingo, entoam hinos a Cristo''. Com efeito, o domingo é o dia em que mais do que qualquer outro, o cristão é chamado a lembrar a salvação. É o dia iluminado pela luz e o triunfo de Cristo ressuscitado. Ele é o sol que ilumina os que jazem nas trevas e na sombra da morte (Lc 1,78), é a luz que ilumina as nações (Lc 2,32).
Assim, o domingo é o dia da fé, da profissão de fé, do testemunho especial da fé, dia por excelência da manifestação pública e social da fé, portanto, é um acontecimento qualificante da identidade cristã. A sexta-feira é o dia da fé dos muçulmanos, o sábado é o dia da fé dos judeus, o domingo é o dia da fé dos cristãos. O domingo é nosso. Foi nos dado por Deus.
Hoje o dia do Senhor parece mais um dia dos pagãos que dos cristãos. Virou dia do consumismo, do comércio, do shopping, do sono, do esporte e até do pecado. Quem inventou o domingo foi Jesus Cristo com sua ressurreição. Cabe aos cristãos recuperar o seu valor espiritual. Sem jactância os cristãos podem dizer: ''O domingo é nosso, o domingo é de Deus''. Não é do comércio, nem do consumismo. Não é mais um dia para o ventre, para o lucro, para produzir. Os cristãos não devem trabalhar, nem comercializar ou pior ainda mercantilizar o domingo. Nosso lugar no domingo é em casa, na Igreja, nos hospitais, nas prisões, visitando parentes e amigos. É dia de fraternidade, de presença junto a Deus e aos irmãos. É dia de caridade iluminada pela fé. É dia de partilhar e não de consumir.
O Papa João Paulo II escreveu uma carta aos católicos sobre o domingo, intitulada ''O dia do Senhor''. Define o domingo como: dia da ressurreição, páscoa semanal, dia da alegria, dia do Senhor, dia de festa, dia do descanso, dia da Igreja, primeiro e oitavo dia; dia da fé, dia da esperança, dia da solidariedade, dia do homem, ''dias dos dias", dia dos cristãos. Portanto, o domingo não é um mero ''fim de semana'', um tempo de relax ou de diversão apenas. A Cristo pertence o tempo e a eternidade, a Ele pertence o domingo, dia marcado pelos maiores acontecimentos da salvação. É o dia iluminado por Cristo ressuscitado, o dia da luz, dia do sol que ilumina os que jazem nas trevas.
O domingo é um ''dia irrenunciável'', isto é, não pode perder sua identidade cristã. Diz o Papa: ''Estou presente espiritualmente nas várias comunidades onde cada domingo, vos reunis com vossos pastores para celebrar a Eucaristia''. Demos a Cristo o nosso tempo, lembrados de que nunca será um tempo perdido, pelo contrário, será um tempo conquistado para profunda humanização das nossas relações e da nossa vida.
DOM ORLANDO BRANDES é arcebispo de Londrina.

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